sábado, 13 de dezembro de 2008

i'm trying


isso meio que virou filosofia de vida. e o que explica minha ausência aqui, também.
um dia eu volto. ah, se volto.

domingo, 19 de outubro de 2008

repentina

enquanto pegava os pratos sujos na sala e os levava pra pia da cozinha, algo nas flores desenhadas na toalha trouxe aquele aperto conhecido na garganta. aperto que fazia com que as palavras exatas pra explicar tão estranha associação não pudessem ser articuladas pela boca, mas antes se equilibrassem dentro das pálpebras, em lágrimas que hesitavam antes de escorrer num choro que não podia mais existir. o que ela sentia não podia ser compartilhado, instantaneamente enchendo a sala de água e a transformando em ilha, náufraga de si mesma. 

a esperança necessária para continuar acordando dormindo acordando com certa alegria e leveza ela encontrava na brevidade de tais sensações. já não mergulhava tão fundo; entendera que para viver bem não podia se entregar tanto assim. a importância da moderação ela aprendeu a duras penas, e ainda hoje era difícil ceder antes à sensatez que à impulsividade – tudo nela resistia ao equilíbrio. ainda sonhava com uma felicidade intensa, plena, sem reservas, se deixando levar por memórias que achava que fossem suas mas que agora não lhe pertenciam mais. quando menos esperava, um vento forte a varria para longe, e ela tentava se agarrar com tudo o que tinha a folhas de árvores, páginas de calendários, letras de música. ficava triste por não se surpreender ao abrir as mãos e encontrá-las vazias, e então as usava para cobrir o rosto, abaixando a cabeça. não demorava muito para que a realidade se espalhasse como um formigamento, forçando-a a abrir os olhos e a sentir o cheiro de folhas frescas entre os dedos e o ar da chuva prestes a cair.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

sleeping is the only love

eu sei que isso não é verdade, mas a minha cabeça continua me dizendo que é, então por hoje eu decidi acreditar. fiz isso várias e várias vezes, até me convencer de que aquilo, se não fosse a verdade, pelo menos era o oposto da mentira. tudo bem, a gente se acostuma, faz pedra de sofá, a vida é assim mesmo. faz assim: quando chegar em casa, liga um som bem alto, coloca uma música boa de dançar, toma um banho, faz um café fresco. escrever vale também, desde que seja pra você mesmo. nada de cartas-que-não-serão-enviadas, ou de ver filmes tristes e chorar. o alívio do choro é muito pequeno comparado à ressaca do dia seguinte, então, me diz, pra quê? 

se quiser desabafar, não hesite: o travesseiro taí pra isso. 

terça-feira, 14 de outubro de 2008

=)


porque tem que ser simples assim. 

e hoje eu fiquei mais feliz do que pinto no lixo com esse site aqui.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

atropelo

tudo o que não posso ver em detalhes, eu atropelo. um olhar que se desvia, um óculos escuro, uma cerca no jardim, uma pedra no caminho, uma desculpa para sair, para calar ou para rir sem graça – se não atropelo, me atropelam. eu te encontro e finjo que não vejo, e salto uma, duas, três vezes para não passar por cima de você aqui dentro, mas tudo que acontece são tropeções, esbarrões e, mesmo quando tento disfarçar com uma cambalhota, atropelo. os dias correm aos pulos ou se reduzem a um fiapo de nada, tentando ultrapassar, se infiltrar, se esgueirar, mas nenhum efeito pode/deve ser minimizado: é preciso bater de frente.

e eu bato. quando digo finjo minto que não, sigo embolada por dias a fio. e ando com pés e mãos amarrados, enquanto tento caminhar e te desejar um bom dia, acenando de longe. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

someday you'll be old enough to start reading fairy tales again

The Land of Faery,
Where nobody gets old and godly and grave,
Where nobody gets old and crafty and wise,
Where nobody gets old and bitter of tongue.
William Butler Yeats
The Land of Heart's Desire

Já não se lembrava da última vez que tinham oferecido um pedaço do sanduíche ou um gole do suco guardado na garrafinha térmica dentro da lancheira. Mas ainda assim, olhava para todos com aquele mesmo sorriso fixo no rosto, um sorriso meio abobado, diziam alguns. Um sorriso amável, dizia a professora. Mas só ele sabia que aquele era um sorriso indiferente. Sorria porque não conseguia esboçar outra reação ao assistir a rotina das crianças, pulando de brinquedo em brinquedo, levantando a mão para fazer uma pergunta ou para ir ao banheiro, cantando músicas bobocas e alegres. Cantar ele sabia, e já tinha de fato cantado bastante e dado gargalhadas e distribuído abraços no fim de canções. Agora só assistia.

Algumas pessoas lhe perguntavam o que tinha acontecido, por que tinha mudado, assim, de uma hora pra outra. Não sentia nenhuma preocupação genuína vindo dessas perguntas, apenas educação. Gentileza, sim, tinha um quê de gentileza no tom das perguntas. Um quê de piedade, também. Ele abaixava a cabeça, as bochechas um tanto vermelhas, e voltava a levantar, ainda com o mesmo sorriso amigável. Sabia que não havia ainda se tornado alvo de grandes especulações ou curiosidades, e isso o confortava.

Sempre tem alguma verdade que a gente nunca conta. A dele era que ele sabia o momento preciso em que haviam embrulhado a sua inocência com papel celofane e mandado para a Terra do Nunca. Mas saber não quer dizer entender, e ao tentar entender, ele revirou todos os cantos e labirintos dentro dele e não viu nenhuma luz de vagalume, nenhuma lagarta virar borboleta, nenhum bilhete com senha secreta. Parou de acreditar em fadas, e todas aquelas que o vigiavam, escondidas em olhares e canções e surpresas e bolos e pirulitos e balanços e em lápis de cores e rabiscos, disseram adeus.

sábado, 16 de agosto de 2008

As pessoas partem pelos mais diversos motivos. Na entrada do hotel, ela olhava as malas cheias e pesadas e imaginava o que carregavam, para onde iriam. Isso quando saíam. As pessoas quando entravam ainda tinham uma alegria ou um ar de novidade do chegar quase intactos, e ela respirava desse mesmo ar também, e não pensava tanto. Quando iam embora, porém, ela sempre pensava, se perguntava, por que não ficar mais? Por que não simplesmente ficar? "Toda vez a mesma coisa", seu pai dizia, alertando, tentando fazer a filha, que já tinha saído desse mundo há muito tempo, entender a realidade. "Você nunca vai entender mesmo, não é? Essas pessoas não moram aqui. Cada um precisa seguir com a sua vida. Não faz sentido chorar por isso".

Sempre tinha uma pia cheia de louças. Uns lençóis para serem dobrados. Um corredor para varrer. Não deixavam mais ela lavar os copos de cristal desde que ela ficou andando pelo hotel com um na frente dos olhos "Olha, olha, fica tudo diferente com isso na frente. É bonito". Tiveram que consertar algumas maçanetas douradas que ela tentou arrancar porque eram bonitas. Tiveram que ensinar que nem tudo que é bonito ela podia ter, e que achar as coisas bonitas o tempo todo era estranho. Ela ouvia isso mas não entendia muito bem. Pra quê se preocupar quando se podia admirar as toalhas coloridas guardadas enroladinhas uma atrás da outra, ou observar as pessoas conversando entre si com expressões comedidas e gestos educados, se levando tão a sério, apertando as mãos?

Teve uma só vez, uma única vez, em que ela quis sair dali correndo. E como não tinha nada a perder, obedeceu ao impulso. Enquanto corria, as casas e árvores em borrões ao seu redor ficaram mais interessantes que jamais foram quando paradas. E tinha o coração, que acelerava e batia tão depressa como ela nunca havia sentido. O chão sumia depressa, os paralelepípedos corriam à toda na direção oposta. E ela descobriu que podia fazer vento, vento que agitava os cabelos desbotados e secava o suor, inventando frescor. Não fosse o cansaço e o despreparo das pernas, ela sentiu, com uma pontada de tristeza, que poderia correr para sempre.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

on/off

às vezes era só questão de volume. ou de intensidade, como diriam os professores de física. a música pode ficar mais ou menos agradável dependendo da intensidade do som. ondas que se propagam pelo ar longitudinalmente, eu costumava gostar dessas coisas. é bem sabido que músicas tocadas alto demais são quase sempre irritantes, a não ser que você esteja em uma boate ou algo do tipo. mas tão ou mais incômodas são aquelas que são tocadas tão baixo – ou tão pouco intensas – que mal dá pra ouvir. até aquelas mais animadinhas ganham um tom meio melancólico, meio fim de festa. as suas preferidas se reduzem a um punhado de acordes desconexos e apagados. como aumentar ou não o volume não cabe a você – seja porque o som não é seu ou porque ele já está no máximo e o barulho do restante do ambiente é que não te deixa escutar bem – surge a dúvida: melhor desligar, sair de perto, e ficar na suposta paz do silêncio? mas você sabe que escolher o silêncio significa se arriscar a deixar de ouvir aquela que você gosta tanto, mas tanto, que a imaginação faz questão de preencher as lacunas e colocar brilho mesmo nas notas mais pálidas. e enquanto dura a dúvida, a música continua tocando, sob o peso do silêncio, do barulho e dos palavrões dirigidos mentalmente aos dois.

sábado, 19 de julho de 2008

recognoscere

Ele se sentou ao pé da porta e lá ficou. Não sabia dizer quanto tempo teria se passado desde a última vez que sentira aquele cheiro fresco de frutas. Era bom ficar ali, debaixo daquela semi-sombra permeada por raios quentes de sol. Olhou para a rua, para a calçada, chegando nos pés e na sua própria sombra que se misturava à sombra ralinha da árvore. Não era uma posição muito confortável, aquela. Podia sentir a calça travando nos joelhos, um braço do paletó que segurava no colo se arrastava no chão. Ele sabia que não precisava ficar ali pra sentir o cheiro das frutas – afinal, o cheiro vinha da sacola de plástico recheada de laranjas, tangerinas, mangas e goiabas que ele tinha acabado de comprar, e a menos que ele quisesse abandonar as frutas pelo caminho, o aroma cítrico o seguiria até a cesta de frutas da cozinha. Mas aquele cheiro pertencia àquele lugar. Não conhecia aquela casa, não tinha nenhuma lembrança relacionada à combinação cheiro de frutas + se sentar desajeitadamente onde quer que fosse. Só pareceu certo assim.


Deixou o desconforto se acumular até que não fosse mais suportável e se ergueu novamente sobre as pernas. Olhou para cima, o sol já estava a pino. Sentiu aquela cegueira momentânea e viu os mini-sóis gravados em seus olhos se refletirem na sacola, no paletó, na calçada, até se apagarem de vez. Pulava as linhas do calçamento e chutava uma e outra pedrinha ou tampa de garrafa reproduzindo um gesto automático adquirido na infância e esquecido por anos. Procurou o chiclete no bolso da calça e deu falta das chaves de casa. Não se sentiu aborrecido por ter esquecido suas coisas no escritório. Isso lhe daria a oportunidade de fazer o mesmo caminho de novo – não se sentaria debaixo da sombra, não teria os mesmos pensamentos e não sentiria o que sentiu, mas ao cheiro das frutas se juntaria o perfume da memória fresca. Ele sabia que, ao passar ali pela segunda vez, se sentiria menos sozinho. Aquele lugar agora o conhecia também.

sábado, 12 de julho de 2008

desalinho

ela só reparou que os sapatos estavam sujos quando saiu de casa. detestava sair com roupas desconfortáveis e sapatos sujos, parecia que todo o resto se desajeitava. mas continuou andando, não dava tempo de voltar agora. andava encolhida, com os braços cruzados para se proteger do frio. o dedo mindinho do pé começava a doer, o vento bagunçava o cabelo, alguns fios entravam nos olhos. ainda pagaria muito por aquela distração.

num dia em que tudo parecia ter despertado para lhe incomodar, ela buscou o aconchego de uma música cantada baixinho. buscou uma daquelas melodias antigas, que já tocaram tanto e que tempos atrás faziam tanto sentido, faziam tanto parte. era fácil se lembrar. mas carros buzinavam, vendedores gritavam e insistiam em colocar um panfleto nas suas mãos. a vida era interrupção.

durante todo o dia, olhou pros sapatos e lembrou da bagunça que deixou em casa. precisava arrumar aquela gaveta quebrada. colocar aquelas almofadas no sol. ler aquele livro encostado. suspirar e olhar pro teto.

domingo, 22 de junho de 2008

enquanto a chuva não cai


tem poeira agora. a cidade está quase toda coberta por ela: nos cantos da casa onde o espanador não alcança, entre os cds empilhados nas prateleiras, se juntando àquela poeira já envelhecida dos livros guardados. tem poeira nas folhas persistentes das árvores, nos galhos que já estão nus, cobrindo a grama ressequida. o verde parece voluntariamente se esconder.

por mais que se tente, não é fácil se livrar da poeira nesses dias. o corpo reage, espirra, tenta expulsar com suas reações mais instintivas a poeira que se infiltra pulmão adentro. não é fácil. alguns grãos, de tão pequenos, atravessam pele, sangue, alma, se perdem de tal maneira que é difícil acreditar que de fato existiram. que ainda existem.

às vezes o céu amanhece branco. neblina paira pela cidade marrom-amarelada, e o azul foge para junto do verde. mas neblina não é nuvem, e logo o azul volta, vibrante, na forma de um céu de meio-dia implacável. lábios, cotovelos, calcanhares, tudo sucumbe ao jogo do vento-frio, sol-escaldante. a claridade é tanta que as pupilas se contraem quase a ponto de não permitir que os olhos enxerguem. nesses dias, a realidade é outra.

não há muito o que esperar até a próxima chuva além da própria chuva. enquanto o ar não traz o frescor úmido de um céu carregado após um dia quente, há o mormaço e as noites frias. olhar para cima não vai fazer com que as primeiras e redentoras gotas se desprendam das nuvens mirradas. mas, com alguma sorte, é possível assistir ao balé dourado das partículas de poeira contra um feixe de luz, ou a uma lua risonha. sem a chuva para entrar, basta abrir a janela.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

mixtape


taí, mais uma genialidade nerd-internetística! pra matar a saudade da época que você gravava fitas com suas músicas preferidas :)

na mixtape, só músicas felizinhas. pra começar a semana (e o mês!) bem.
















domingo, 1 de junho de 2008

..

sempre acontece alguma coisa. com as pontas dos dedos tateio, no escuro ou com o reflexo do sol nos olhos, dá na mesma. acontece alguma coisa que se arrasta, devagar, pedindo: olhem pra mim, eu deixo vocês me analisarem o quanto quiserem, vamos, tirem conclusões sobre mim. mas eu espero. não ignoro, apenas espero. me arrasto mais lento que os acontecimentos, deixo que eles passem na minha frente e me mostrem por onde devo ir, me esquivando do desespero e esbarrando na apatia.

consigo alguma alegria de brinde nisso tudo. alguma tranqüilidade, algum controle. consigo acordar, sentir as preciosas faíscas de ânimo correndo pela espinha de manhã e me colocando de pé. consigo tomar meu café da manhã sem perder a hora ou deixar esfriar o pão. a inevitabilidade do tudo-passa me consola e me angustia; consigo admitir a efemeridade de algumas situações e até de alguns sentimentos, mas e quanto a mim, o quanto de mim fica?

somewhere a clock is ticking.

segunda-feira, 19 de maio de 2008


don't push so hard against the world, no, no
you can't do it all alone,
and if you could, would you really want to?
even though you're a big strong girl,
come on, come on, lay it down
the best made plans are your open hands.

[deb talan]

quarta-feira, 14 de maio de 2008

.

eu te disse uma vez que tava juntando os cacos. sabe, igual quando uma porta de vidro se bate tão violentamente que os pedacinhos se espalham pelo chão. eu quero juntar tudo, e não acho que vai ser como na metáfora do vaso quebrado, aquele que depois de passar cola continua todo trincado. e não quero passar tinta em cima, também. quero uma outra metáfora. quero juntar os caquinhos e fazer um mosaico, um vitral, qualquer coisa assim, bem bonita e quase sagrada.

e todos os dias me vem uma nova maneira de dizer, de entender, de sentir as coisas todas. queria poder te contar, mas existe essa distância, essa barreira quase imperceptível que nem o abraço mais apertado consegue romper. a ilusão do abraço é tão poderosa que você acredita mesmo que abraçou e que está sendo abraçado. os braços são talvez o maior engodo no corpo inteiro. mas tudo bem, essas novidades nem chegam a ser novas; são apenas as antigas agregadas ou subtraídas. será que a gente não muda, e essa é mais uma dessas crenças que a gente alimenta pra não se sentir tão mal consigo mesmo ou com o mundo, a gente se agarra a tanta coisa que não existe. é difícil sair da bolha, esticar os braços até o que há de palpável do lado de fora. a mais frágil bolha de sabão parece mais confortável e colorida do que as pedras geladas que revestem o chão onde agora piso. é preciso flutuar, mas são mais importantes os sapatos nos pés.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

sanidade. poderia ser uma palavra de ordem, por enquanto é só um desejo. acordar cedo, caminhar por quase uma hora, desviar de calçadas quebradas. poderia ser uma distração, por enquanto é só killing time. as malditas/benditas horas; as malditas/benditas energias acumuladas. silêncio absoluto ao atravessar a rua. poderia ser um momento de meditação, mas a expectativa passa na minha frente e se quebra. unhas compridas, cabelos presos em coque, olhar submerso em algo não-especulável. poderia ser uma rotina, poderia ser.

na volta, um pôr-do-sol. de tão pronto pra comover, quase passa em branco.


[going to a town - rufus wainwright]

terça-feira, 6 de maio de 2008

segunda-feira, 5 de maio de 2008

belle and sebastian disse: it's not as if i'm being sent off to war, there are worse things in this world.
mas quando é com os outros, a gente entende bem mais.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

o que é o que é

Ela tampou os olhos dele e perguntou: adivinha quem é. Queria que ele a reconhecesse pelo toque, pelo timbre, pelas gotinhas de perfume nos pulsos. Mas o nome que seria a resposta, acompanhado por uma certa surpresa e alegria, nunca deixaram seus lábios, nunca fizeram vibrar ar e coração. As mãos jamais saíram de cima dos olhos.

Como um par, entretanto, viveram. Se deram as mãos ao andar na rua, foram a almoços de família, sentaram lado a lado na mesa. Amavam-se com moderação, despediam-se sem angústia, respiravam sem o auxílio de suspiros. Não sufocavam gritos por não haver o que gritar, cumprimentavam conhecidos com polidez. Eram parecidos, pensavam. Era uma companhia, pensavam.

Mas sempre havia a espera. Aquela asfixiante espera, avançando dia após dia, se acumulando em milímetros de vontades recolhidas. Um delírio, um sonho cuja presença se ignorava, inventando sombreados que seguiam as cores e que mudavam os tons. Garganta que se engasgava sem choro, olhos tapados sem mãos, sem vendas, sem brincadeira de cabra-cega. Só a voz permanecia, adivinha quem é. Adivinha, quem, o quê?. A voz branda e branca anunciaria todas as surpresas que viriam, mas o pressentimento seria só dele. E seriam sós.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

fight 'til your fists bleed, baby

luta luta luta. luta pra falar, luta pra calar, luta pra continuar em silêncio, luta pra se expressar. luta pra conviver, luta pra se adaptar, luta pra respirar. respira respira respira, respira desse ar estranho da cidade, respira o ar, respira o perfume, respira a fumaça. respira pra não sufocar. sufoca sufoca sufoca, sufoca até entalar, pra não sentir, pra não pensar, pra não machucar. machuca machuca machuca, machuca e se deixa machucar, machuca pra não acumular, machuca (pra) se comunicar, pra se proteger, pra amar. protege protege protege, eles já estão pra chegar. e chegam e chegam e chegam, e te pedem pra se entregar. mas você luta luta luta, pensando, já já vai acabar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008


do you miss me, miss misery, like you say you do?


sábado, 12 de abril de 2008

pela tangente

não sei o que me compele, em meio a momentos felizes e até mesmo doces, a me desviar, me focar na amargura. é certo que faço o contrário muitas vezes; tenho lá uns resquícios do famigerado jogo-do-contente. tem hora que eu não sei dizer bem o que ficou de muita coisa, o que eu ainda carrego como uma marca d'água – não é visível aos olhos, e desconfio que nem ao coração.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

pessoas

eu conheci uma menina que dava pra saber que ela tava sorrindo só de olhar para os olhos, quando, sem graça, ela escondia o sorriso com um cachecol.

conheci um menino que já deu muita risada e me fez rir de muita coisa sem graça, e agora ele não ri até do que tem.

conheci uma menina que chorou ao ganhar um soneto de presente, e que agora não sabe o que fazer com ele.

conheci uma menina que é super elegante do lado de fora, mas que se perde no emaranhado dos fios do lado de dentro do bordado.

conheci um menino que já foi pianista, saxofonista e até superman.

conheci uma menina que me encorajou a ir mais alto ao brincar no balanço, e a sentir o vento batendo no rosto, de olhos fechados.

conheci um menino cujo dom era o seu fardo (e vice-versa).

conheci uma menina que criava sorrisos com traços simples num papel qualquer – com ou sem cores.

conheci uma menina que tem tudo planejado, mas que vive me surpreendendo.

conheci um menino que vive em estado de alerta – o mundo pode, sim, ser uma grande ameaça.

conheci uma menina que é a personificação do entusiasmo e da alegria, mas que fica mais triste que muita gente.

conheci a ariana mais pisciana de todas, com um coração maior que ela mesma, que sempre me traz um pouquinho de fé.

conheci um menino que, de tão 'errado', voltou a ser certinho.

conheci uma menina que, depois de gastar todas as energias acumuladas, descobriu mais um monte pra gastar.

conheci um menino que se encantava com tudo no mundo, e que sentia uma repulsa imensa por ele ao mesmo tempo – e se doía, doía.

conheci uma menina que queria ser bailarina, desde pequenina, e que faz de todas as danças o seu balé.

domingo, 30 de março de 2008

obsoleta / quase memória

Ela se sentia confortável ouvindo músicas de um tempo que não viveu. As de agora pareciam alheias demais a quaisquer já-vividos, sem nada que as ligasse a uma realidade de fato. Precipitado demais afirmar o que se experimenta enquanto se experimenta, não suportaria tamanha incoerência. Que sentido poderia haver em se ouvir o agora falando do agora – não se sabe nada do ser, do é, do vir-a-ser. Queria música concreta, fora das abjurações especulações conjurações, vida ao alcance de uma combinação de acordes. Gostava de pensar que alguém tinha colocado um pouco da própria vida em cada letra das letras, uma vida de verdade, uma vida distante, daquelas da época (quanto mais antiga, melhor) em que cada verso era uma conquista. Em cada tom, nos desafinados quase sem querer que ela acompanhava quase desafinando também, fazia despertar com um ressoar nos ouvidos e um sacudir da memória um tempo que já tinha fechado os olhos.

domingo, 16 de março de 2008

diário

fui dormir meio enjoada, acordei com vontade de ouvir música boba. dessas de rádio mesmo. sintonizei meu som pela primeira vez (esquisito isso de não ouvir mais rádio. associação maluca, parece que tirei mais uma fonte de espontaneidade na minha vida. de imprevisto).

aí tá. tenho que tomar banho, tô aqui enrolando. li umas coisas que me deram vontade de escrever, mas neeem. killers um tanto alto demais. a rádio não funcionou, muita propaganda.

é bom ficar sozinha em casa. mas já estão de volta.

quarta-feira, 12 de março de 2008

lá vamos nós de novo...

detidamente, com mais delongas.

porque eu sempre tive uma queda pelo slowmotion.