quinta-feira, 11 de setembro de 2008

someday you'll be old enough to start reading fairy tales again

The Land of Faery,
Where nobody gets old and godly and grave,
Where nobody gets old and crafty and wise,
Where nobody gets old and bitter of tongue.
William Butler Yeats
The Land of Heart's Desire

Já não se lembrava da última vez que tinham oferecido um pedaço do sanduíche ou um gole do suco guardado na garrafinha térmica dentro da lancheira. Mas ainda assim, olhava para todos com aquele mesmo sorriso fixo no rosto, um sorriso meio abobado, diziam alguns. Um sorriso amável, dizia a professora. Mas só ele sabia que aquele era um sorriso indiferente. Sorria porque não conseguia esboçar outra reação ao assistir a rotina das crianças, pulando de brinquedo em brinquedo, levantando a mão para fazer uma pergunta ou para ir ao banheiro, cantando músicas bobocas e alegres. Cantar ele sabia, e já tinha de fato cantado bastante e dado gargalhadas e distribuído abraços no fim de canções. Agora só assistia.

Algumas pessoas lhe perguntavam o que tinha acontecido, por que tinha mudado, assim, de uma hora pra outra. Não sentia nenhuma preocupação genuína vindo dessas perguntas, apenas educação. Gentileza, sim, tinha um quê de gentileza no tom das perguntas. Um quê de piedade, também. Ele abaixava a cabeça, as bochechas um tanto vermelhas, e voltava a levantar, ainda com o mesmo sorriso amigável. Sabia que não havia ainda se tornado alvo de grandes especulações ou curiosidades, e isso o confortava.

Sempre tem alguma verdade que a gente nunca conta. A dele era que ele sabia o momento preciso em que haviam embrulhado a sua inocência com papel celofane e mandado para a Terra do Nunca. Mas saber não quer dizer entender, e ao tentar entender, ele revirou todos os cantos e labirintos dentro dele e não viu nenhuma luz de vagalume, nenhuma lagarta virar borboleta, nenhum bilhete com senha secreta. Parou de acreditar em fadas, e todas aquelas que o vigiavam, escondidas em olhares e canções e surpresas e bolos e pirulitos e balanços e em lápis de cores e rabiscos, disseram adeus.

2 comentários:

l.m. disse...

eu fico muito triste por ele e muito encantada com a forma que você faz algo tão cruel parecer doce, liv. ;*

Jamila Zgiet disse...

isso me parece medo de crescer
tenho isso... agora mais do que sempre.
:*
amo-te