quinta-feira, 24 de abril de 2008

o que é o que é

Ela tampou os olhos dele e perguntou: adivinha quem é. Queria que ele a reconhecesse pelo toque, pelo timbre, pelas gotinhas de perfume nos pulsos. Mas o nome que seria a resposta, acompanhado por uma certa surpresa e alegria, nunca deixaram seus lábios, nunca fizeram vibrar ar e coração. As mãos jamais saíram de cima dos olhos.

Como um par, entretanto, viveram. Se deram as mãos ao andar na rua, foram a almoços de família, sentaram lado a lado na mesa. Amavam-se com moderação, despediam-se sem angústia, respiravam sem o auxílio de suspiros. Não sufocavam gritos por não haver o que gritar, cumprimentavam conhecidos com polidez. Eram parecidos, pensavam. Era uma companhia, pensavam.

Mas sempre havia a espera. Aquela asfixiante espera, avançando dia após dia, se acumulando em milímetros de vontades recolhidas. Um delírio, um sonho cuja presença se ignorava, inventando sombreados que seguiam as cores e que mudavam os tons. Garganta que se engasgava sem choro, olhos tapados sem mãos, sem vendas, sem brincadeira de cabra-cega. Só a voz permanecia, adivinha quem é. Adivinha, quem, o quê?. A voz branda e branca anunciaria todas as surpresas que viriam, mas o pressentimento seria só dele. E seriam sós.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

fight 'til your fists bleed, baby

luta luta luta. luta pra falar, luta pra calar, luta pra continuar em silêncio, luta pra se expressar. luta pra conviver, luta pra se adaptar, luta pra respirar. respira respira respira, respira desse ar estranho da cidade, respira o ar, respira o perfume, respira a fumaça. respira pra não sufocar. sufoca sufoca sufoca, sufoca até entalar, pra não sentir, pra não pensar, pra não machucar. machuca machuca machuca, machuca e se deixa machucar, machuca pra não acumular, machuca (pra) se comunicar, pra se proteger, pra amar. protege protege protege, eles já estão pra chegar. e chegam e chegam e chegam, e te pedem pra se entregar. mas você luta luta luta, pensando, já já vai acabar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008


do you miss me, miss misery, like you say you do?


sábado, 12 de abril de 2008

pela tangente

não sei o que me compele, em meio a momentos felizes e até mesmo doces, a me desviar, me focar na amargura. é certo que faço o contrário muitas vezes; tenho lá uns resquícios do famigerado jogo-do-contente. tem hora que eu não sei dizer bem o que ficou de muita coisa, o que eu ainda carrego como uma marca d'água – não é visível aos olhos, e desconfio que nem ao coração.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

pessoas

eu conheci uma menina que dava pra saber que ela tava sorrindo só de olhar para os olhos, quando, sem graça, ela escondia o sorriso com um cachecol.

conheci um menino que já deu muita risada e me fez rir de muita coisa sem graça, e agora ele não ri até do que tem.

conheci uma menina que chorou ao ganhar um soneto de presente, e que agora não sabe o que fazer com ele.

conheci uma menina que é super elegante do lado de fora, mas que se perde no emaranhado dos fios do lado de dentro do bordado.

conheci um menino que já foi pianista, saxofonista e até superman.

conheci uma menina que me encorajou a ir mais alto ao brincar no balanço, e a sentir o vento batendo no rosto, de olhos fechados.

conheci um menino cujo dom era o seu fardo (e vice-versa).

conheci uma menina que criava sorrisos com traços simples num papel qualquer – com ou sem cores.

conheci uma menina que tem tudo planejado, mas que vive me surpreendendo.

conheci um menino que vive em estado de alerta – o mundo pode, sim, ser uma grande ameaça.

conheci uma menina que é a personificação do entusiasmo e da alegria, mas que fica mais triste que muita gente.

conheci a ariana mais pisciana de todas, com um coração maior que ela mesma, que sempre me traz um pouquinho de fé.

conheci um menino que, de tão 'errado', voltou a ser certinho.

conheci uma menina que, depois de gastar todas as energias acumuladas, descobriu mais um monte pra gastar.

conheci um menino que se encantava com tudo no mundo, e que sentia uma repulsa imensa por ele ao mesmo tempo – e se doía, doía.

conheci uma menina que queria ser bailarina, desde pequenina, e que faz de todas as danças o seu balé.