quinta-feira, 24 de abril de 2008

o que é o que é

Ela tampou os olhos dele e perguntou: adivinha quem é. Queria que ele a reconhecesse pelo toque, pelo timbre, pelas gotinhas de perfume nos pulsos. Mas o nome que seria a resposta, acompanhado por uma certa surpresa e alegria, nunca deixaram seus lábios, nunca fizeram vibrar ar e coração. As mãos jamais saíram de cima dos olhos.

Como um par, entretanto, viveram. Se deram as mãos ao andar na rua, foram a almoços de família, sentaram lado a lado na mesa. Amavam-se com moderação, despediam-se sem angústia, respiravam sem o auxílio de suspiros. Não sufocavam gritos por não haver o que gritar, cumprimentavam conhecidos com polidez. Eram parecidos, pensavam. Era uma companhia, pensavam.

Mas sempre havia a espera. Aquela asfixiante espera, avançando dia após dia, se acumulando em milímetros de vontades recolhidas. Um delírio, um sonho cuja presença se ignorava, inventando sombreados que seguiam as cores e que mudavam os tons. Garganta que se engasgava sem choro, olhos tapados sem mãos, sem vendas, sem brincadeira de cabra-cega. Só a voz permanecia, adivinha quem é. Adivinha, quem, o quê?. A voz branda e branca anunciaria todas as surpresas que viriam, mas o pressentimento seria só dele. E seriam sós.

3 comentários:

Jamila Zgiet disse...

poxa...

L. disse...

nem preciso dizer que eu adoro textos assim, né? você tem uma sensibilidade fora do comum, liv. lindo - simplesmente.

você é.. sem palavras.
adoro.

l.m. disse...

que surpresa descobrir que, além de tudo, você escreve lindo e doce (como não podia deixar de ser). ;*