domingo, 22 de junho de 2008

enquanto a chuva não cai


tem poeira agora. a cidade está quase toda coberta por ela: nos cantos da casa onde o espanador não alcança, entre os cds empilhados nas prateleiras, se juntando àquela poeira já envelhecida dos livros guardados. tem poeira nas folhas persistentes das árvores, nos galhos que já estão nus, cobrindo a grama ressequida. o verde parece voluntariamente se esconder.

por mais que se tente, não é fácil se livrar da poeira nesses dias. o corpo reage, espirra, tenta expulsar com suas reações mais instintivas a poeira que se infiltra pulmão adentro. não é fácil. alguns grãos, de tão pequenos, atravessam pele, sangue, alma, se perdem de tal maneira que é difícil acreditar que de fato existiram. que ainda existem.

às vezes o céu amanhece branco. neblina paira pela cidade marrom-amarelada, e o azul foge para junto do verde. mas neblina não é nuvem, e logo o azul volta, vibrante, na forma de um céu de meio-dia implacável. lábios, cotovelos, calcanhares, tudo sucumbe ao jogo do vento-frio, sol-escaldante. a claridade é tanta que as pupilas se contraem quase a ponto de não permitir que os olhos enxerguem. nesses dias, a realidade é outra.

não há muito o que esperar até a próxima chuva além da própria chuva. enquanto o ar não traz o frescor úmido de um céu carregado após um dia quente, há o mormaço e as noites frias. olhar para cima não vai fazer com que as primeiras e redentoras gotas se desprendam das nuvens mirradas. mas, com alguma sorte, é possível assistir ao balé dourado das partículas de poeira contra um feixe de luz, ou a uma lua risonha. sem a chuva para entrar, basta abrir a janela.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

mixtape


taí, mais uma genialidade nerd-internetística! pra matar a saudade da época que você gravava fitas com suas músicas preferidas :)

na mixtape, só músicas felizinhas. pra começar a semana (e o mês!) bem.
















domingo, 1 de junho de 2008

..

sempre acontece alguma coisa. com as pontas dos dedos tateio, no escuro ou com o reflexo do sol nos olhos, dá na mesma. acontece alguma coisa que se arrasta, devagar, pedindo: olhem pra mim, eu deixo vocês me analisarem o quanto quiserem, vamos, tirem conclusões sobre mim. mas eu espero. não ignoro, apenas espero. me arrasto mais lento que os acontecimentos, deixo que eles passem na minha frente e me mostrem por onde devo ir, me esquivando do desespero e esbarrando na apatia.

consigo alguma alegria de brinde nisso tudo. alguma tranqüilidade, algum controle. consigo acordar, sentir as preciosas faíscas de ânimo correndo pela espinha de manhã e me colocando de pé. consigo tomar meu café da manhã sem perder a hora ou deixar esfriar o pão. a inevitabilidade do tudo-passa me consola e me angustia; consigo admitir a efemeridade de algumas situações e até de alguns sentimentos, mas e quanto a mim, o quanto de mim fica?

somewhere a clock is ticking.