quinta-feira, 5 de março de 2009

um dia, uma sala

A sala não era muito confortável. Lá na frente, a professora falava e falava várias coisas que ela já sabia de cor, mas que ainda assim errava, então o correto era permanecer. Se incomodava com afirmações generalistas e simplórias, ideologismos mal disfarçados, mas permanecia. Do lado, uma conhecida. Figura constante em vidas anteriores, poderia até ter sido uma antagonista em infâncias, adolescências, mas não chegara a tanto. Presença forte, porém distante; uma espécie de referência. Parecia decidida, firme, ativa (não-espectadora), tudo o que ela na sua crônica insegurança não alcançaria e que sabia que ia precisar e sofrer por não ter por muito tempo, por não ser. Tinha apenas sete anos quando primeiro se deu conta disso. Ainda hoje, ambas adultas, olhava para a outra em busca de alguma aprovação e empatia nas poucas palavras que trocavam em horas de silêncio. Reencontraram-se por obra do acaso, não do destino. Não havia nada que poderiam de fato aprender ali. E deixavam a sala, quase esquecendo de se despedir.

Mas as diferenças com quem se sentava ao lado já não ocupavam sua cabeça como antes. Nada realmente ocupava, há que se dizer a verdade. Olhou pras janelas fechadas e sentiu o frio do ar condicionado, interessante isso de fechar as janelas pra não entrar calor. Olhou para os pés e pensou em como suas unhas ficavam arroxeadas depressa, bastava esfriar um pouco. Passava o dia pensando em irrelevâncias assim. Isso quando não simplesmente se sentava e se deixava estar, pensamento vagueando a esmo, incapaz de se mover, de terminar a ação de tirar o casaco, de buscar um copo d'água. Deixava o dia, quase esquecendo de apagar a luz, fechar os olhos e dormir.

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